De tanto esperar por uma nova edição do Salão Nacional Victor Meirelles (SNVM), realizado pela última vez em 2008, artistas de Florianópolis fizeram uma versão extraoficial do concurso. No edital-manifesto (leia neste link), lançado no dia 3 de fevereiro, o Nacasa Coletivo Artístico defende que o fortalecimento da cena artística regional esteve relacionada, em grande medida, com o Salão. Por isso tomou a iniciativa de fazer uma espécie de Salão ¿clandestino¿. As inscrições estão abertas até o dia 25 de março e todas as obras inscritas serão expostas, sem curadoria, entre 1º e 30 de abril, na sede do Coletivo (Rua José Francisco Dias Areias, 359, Trindade).
Criado em 1993 pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), o Salão tinha o objetivo incentivar a produção atual das artes visuais no Brasil e torná-la acessível ao público catarinense, promovendo encontros e discussões pertinentes. Foram realizadas 10 edições — até 1997 de abrangência apenas estadual e depois nacional. Foi consagrado pela crítica como um dos mais rigorosos do país e oferecia prêmios em dinheiro para os selecionados e para as obras contempladas com os primeiros lugares.
Artistas como Paulo Gaiad, Lela Martorano e Laerte Ramos, nomes importantes no circuito de artes, já tiveram trabalhos selecionados. Entre os curadores, o Salão já contou com a expertise de Fernando Lindote e Charles Narloch.
— Há quase 10 anos o Salão não é realizado. Fizemos um edital-manifesto, o que reforça essa nossa posição periférica. Salões são importantes porque trazem um panorama do que se está pensando, além de colocar a cidade no circuito das artes — destaca Diego de los Campos, integrante do Nacasa e um dos artistas proeminentes da cena contemporânea.
No manifesto, o coletivo ressalta as promessas feitas desde 2008 sobre o próximo lançamento: ¿ano após ano contamos apenas com promessas (...) e ficamos sem o retorno das autoridades sobre a real situação do salão¿, diz o documento. O grupo está aberto a conversas e parcerias com a FCC, caso o órgão deseje apoiar.
Em nota, a Fundação informou que desde que a nova gestão assumiu, em janeiro, estabeleceu como prioridade a realização dos editais previstos em lei, entre eles o Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura (Lei 15.503/11). A nota diz ainda que o edital abrange o Prêmio Catarinense de Artes Visuais, que ¿cumpre papel de fomento à produção artística no campo das Artes Visuais¿.
¿Cabe lembrar que, dada a natureza do projeto, somente a FCC dispõe das condições legais e técnicas para realizar e promover o Salão. Embora não conte com o amparo de uma lei que o regulamente, a FCC reconhece sua histórica relevância e está trabalhando na busca de outras fontes financeiras, conforme consta no planejamento da atual gestão¿ continua o texto.
A IMPORTÂNCIA DOS SALÕES DE ARTE
A artista Karina Zen, que já foi premiada em salões como o 11° Salão de Artes Visuais de Guarulhos e Salão de Artes Plásticas – Anuário de Embu das Artes (SP), foi uma entre tantos artistas que celebraram a edição-manifesto do Salão Victor Meirelles.
— É quase um ato político — opina ela.
A artista Lela Martorano, contemplada na quinta edição do concurso (1997) com o prêmio Referência Especial pela série de fotografias Varais, relembrou a importância do Salão para o desenvolvimento de sua obra:
— Foi determinante no meu trabalho receber um prêmio, em 1997, no Salão Victor Meirelles, um dos mais respeitados do Brasil na época, e que tinha na comissão julgadora críticos de arte como Nelson Aguilar, Lisette Lagnado e Aracy Amaral. Eu estava começando a trabalhar com a fotografia, justo quando essa expressão se afirmou de maneira definitiva como linguagem de arte contemporânea. Acho excelente a provocação do Nacasa, um coletivo que trabalha de forma independente e que está utilizando a arte, nossa ¿arma¿, para questionar e criticar o total descaso com a cultura, que infelizmente impera no nosso Estado — disse, por e-mail. Lela atualmente vive na Espanha, onde terminou doutorado. No próximo sábado ela inaugura exposição na cidade de Málaga.
No edital-manifesto, a organização lança uma provocação: será que a próxima edição oficial do Salão irá considerar a promovida pelo Nacasa? Será a 11ª ou a 12ª?
Você sabia?
A origem dos salões oficiais no Brasil foi a partir da Exposição Geral de 1840. Somente depois da proclamação da república que grandes mostras assumem o nome de Salão. Os primeiros foram o Salão Nacional de Belas Artes e depois de Arte Moderna.
Circuito de salões importantes
- Salão Paranaense — Museu de Arte Contemporânea do Paraná (65 edições)
- Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba (48 edições)
- Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, em Santo André (SP) (45 edições)
- Prêmio CNI-Sesi Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas (seis edições)
Conheça:
5 artistas revelados pelo SNVM, que são nomes importantes no circuito nacional
- Paulo Gaiad (SC)
- Ricardo Kolb (SC)
- Lela Martorano (SC)
- Fabiana Wielewicki (PR)
- Laerte Ramos (SP)
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